O Super-Homem
da DC Comics é o mesmo Super-Homem de Friedrich Nietzsche? Definitivamente não.
Aliás, penso que se Nietsche visse um filme, ou lesse alguma HQ do super-herói sentiria
muito desprezo pela a coisa toda. Quando Zaratustra, a personagem nitiana de
seu romance “Assim Falou Zaratustra”, disse “Eu vos anuncio o Super−homem. O
homem é superável. Que fizestes para o superar?”(Nietzsche, 2001, p.7), ele não
se referia a um homem mais forte que os outros, ou um indivíduo superior como
homem, na verdade queria Nietzsche contestar o próprio conceito de homem
vigente, todas as suas verdades e certezas, toda a sua moral e bondade.
Superman é o filho favorito do
Kansas, o herói da nação norte-americana, sua roupa tem as cores da bandeira,
ele é recebido pessoalmente pelo presidente da nação, é modelo de cidadão e
mesmo sua identidade secreta, Clark Kent, é um exemplo de cidadão politicamente
correto. Tudo aquilo que Nitezsche desprezava. Por exemplo, quando Richard Wagner,
a quem o filósofo nutria explícita admiração e apreço, ascende na sociedade
alemã, começa a compor óperas que louvam valores e símbolos moralmente
valorizados pela sociedade germânica cristã e galga boa posição no meio desta,
ele diz:
“O que eu nunca poderei perdoar a Wagner? A sua condescendência para
com os alemães, a sua adaptação, a ponto de tornar-se um bom alemão... Pobre
Wagner! Até onde chegara! Fosse dar pelo menos em meio de suínos! Mas... entre
alemães!...” NIETZSCHE,
Friedrich Wilhelm. Ecce Homo: Como Cheguei a Ser o que Sou. Trad. Lourival de
Queiroz Henkel. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.p.53 e p.87.
Ou
seja, Nietzsche jamais admiraria, e muito menos criaria, uma personagem
“bandeirosa”, que luta por valores morais aceitos pela boa sociedade ordeira. Ou
pior, um herói que defende os fracos e oprimidos. Em “O Anticristo” Nietzsche
execra a ideia de defesa dos fracos. Para ele isso rompia com a ordem natural
das coisas, na qual os fracos devem perecer, fortalecendo a espécie e a
sociedade, exclusivamente povoada pelos mais fortes, os mais aptos.
O
super-homem nitiano é o homem que supera a si mesmo, que se recusa a seguir a
moral vigente, muito menos a cristã.
Jamais
o super-homem nitiano seria patriota ou regraria suas ações por valores
produzidos pela nossa sociedade, a qual ele chamava de domada, domesticada.
O
super-homem nitiano, como ele dizia, era o hiperbóreo, aquele que tal como um
bárbaro vagaria sem rumo pelo mundo, agindo conforme sua vontade, nascendo e
morrendo a cada dia. Este homem viveria o mito do eterno retorno, lançar-se-ia
à vida de tal forma que aquele dia de viva valesse a pena ser vivido novamente,
e novamente e assim eternamente. Mas nunca alguém que valorizasse a ordem de
uma sociedade moralizada, formada por seres cuja vontade fora castrada por
limites morais.
Mas, então
qual super-herói se aproximaria mais do Super-homem nitiano?
Batman talvez?
Está certo que ele derrotou o Superman em “O caveleiro das trevas retorna”, mas
não. Batman, mesmo nesta saga, admite que seus limites e regras morais o
impediram de fazer o que achava certo, matar o Coringa, quando ele diz “quantas
pessoas eu matei por te deixar viver”, num diálogo célebre pouco antes de despachar
o palhaço.
Talvez um
vilão? Não, Nietzsche sempre falou da importância da ética, e os vilões são
mentirosos e traiçoeiros. Nem mesmo Magneto se enquadraria.
Acho que o
mais próximo que temos do ideal nitiano seja Rorschach, de Watchmen.
Ele
abandonou o próprio nome e era um fora da lei. Seguia um princípio moral
somente seu, não se submetia a regras e fazia aquilo que achava necessário,
matava os vilões sempre da maneira mais crua e imediata, às vezes rápido,
noutras com extrema crueldade.
Mas Rorschach
se escondia com uma máscara, coisa que certamente o filósofo niilista não
aprovaria. O Bárbaro indomável, movido por sua vontade incontida não se encaixa
nos padrões da cultura pop, nem nos mais extremos.
Fato, o termo
Super-Homem fora popularizado pela personagem da DC Commics, mas o conceito
cunhado por Friedrich Wilhelm Nietzsche absolutamente nada
tem a ver com tal personagem.
BIBLIOGRAFIA
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra. São
Paulo: Cia. das Letras. 2001
________________________. Crepúsculo
dos ídolos, ou como filosofar com o martelo. trad. Paulo Cesar de Souza. São
Paulo: Cia. das Letras, 2006.
________________________.Ecce Homo:
Como Cheguei a Ser o que Sou. Trad. Lourival de Queiroz Henkel. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Ediouro, s/d.
_______________________. Obras incompletas. São Paulo:
Nova Cultural. 1999. (Os pensadores)
Colecionar é Cultura!!! Fraterarez é Cultura!!! Parabéns pelo post!
ResponderExcluirGostei muito do texto. Realmente algo bem diferente e inesperado. Na verdade, queria que você tivesse falado mais... kkkk. Parabéns! Espero mais textos similares e até melhores. ABS
ResponderExcluirOlá amigo, desculpa a demora. Primeiramente muito obrigado por conferir meu trabalho. Bem, a inspiração para esse texto veio de um questionamento de um aluno. Espero ter sido claro e corrente.
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