Esse anúncio de Rafael Bitencourt explicita não só a decadência do heavy metal brasileiro bem como de toda a indústria fonográfica. Fica evidente que a grande jogada é viver de nostalgia, reuniões e tentar atrair o máximo possível do público ainda vivo para shows.
Reuniões caça níquel.
Os caça níquel da indústria fonográfica não são novidade. Coletâneas, “the best of”, acústico, tributos, reuniões, despedidas e etc sempre ocorreram. Esse movimento se intensificou nos anos 1990. Era barato e rápido produzir um “cedezinho” com dez faixas e jogar nas bancas para faturar um. Apareceram coisas curiosas, banda totalmente anônimas, ou criadas só para a gravação, me lançavam um tributo de uma banda famosa; “a tribute to Pink Floyd” entre outras generalidades eram muito comuns. Outras artimanhas eram menos descaradas e simplistas, como o álbum ao vivo. Se bem que haviam discos live forjados, como um do Reginaldo Rossi, que fica evidente que a música era de estúdio com o som platéia inserido posteriormente. Tudo bem, continua sendo um grande artista com suas músicas consagradas, mas que é uma bela jogada malandra isso é. Os tributos tiveram seu surgimento explosivo com “Nativity in black”, um mega tributo ao Black Sabbath. Todo mundo ficou curioso para ouvir as músicas do Sabbath sendo executadas por exemplo pelo Megadeth. Mas isso logo se diluiu para formatos menos austeros como bandas lançando álbuns de covers sob a desculpa de que era um tributo, como o Iced Earth lançando em 2001 2002 dois aĺbuns de covers de diversas bandas de metal. Pessoal ficou curioso e comprou. Nos anos 1960 e 1970 isso ocorria mas eram geralmente faixas isoladas, como o Judas Priest fazendo um cover de Green Manalishi, música do Fleet Wood Mac. Ou seja, fica evidente que o negócio era lançar material para vender, empurrar mídia no consumidor. E funciona muito bem.
E com o fim da mídia?
Mas isso tudo não se compara ao que vem ocorrendo com o fim da venda de mídia. Não dá mais para fazer um cover e esperar retorno. O fim da venda de discos encolheu a indústria fonográfica e a renda tanto de gravadoras como de bandas caiu. O streaming não remunera o suficiente e fazer show é o resta. A solução encontrada pelas bandas são as turnês: reunião, despedida, comemoração do álbum tal, união com não sei quem etc. Nomes populares como os Titãs recorreram a esse artifício com a turnê de reunião que depois virou outra turnê e etc. O exemplo vem de cima com o Kiss encerrar uma longuíssima turnê de despedida que certamente arrecadou horrores. Nunca mais veremos um caso como o dos Beatles que viveram confortavelmente só vendendo disco sem se apresentar mais em público. Nichos pequenos são os que mais sofrem, e o power metal é um deles.
O Angra, uma das, mas não a, maiores bandas do metal brasileiro vem lutando para arrecadar. Com formação inconstante e diversos álbuns tentando atingir o mercado parece que agora reconheceu que não dá mais. É notório a frustração da banda com seu último lançamento, Omni. Eles falaram abertamente que o retorno não foi o esperado. Tanto que logo após seu lançamento fazem um show acústico na Ópera de Arame em Curitiba e lançam um álbum do evento, que também não obteve sucesso. Fracasso na venda de mídia (obviamente esperado) fracasso de público. Agora com a iminente reunião com a formação Rebirth, a saída do vocalista Fábio Lione e a entrada de Alírio Neto para algumas apresentações Rafael Bittencourt dá essa notícia de que a formação do Angra não é mais fixa. Fica implícito uma turnê com Edu Falaschi, depois de algumas polêmicas e discussões pouco amistosas em público pela web, e quem sabe mais álbum ao vivo. É uma pena que André Matos não se encontra mais para realizar o sonho de adolescentes da década de 1990 em ver um show de Angels Cry.
O que fica é claro, os caras precisam de grana e sem vender disco tem que inventar alguma coisa para atrair o escasso público muitas vezes já idoso. E o tempo urge, veja o exemplo da turnê de reunião do ABBA que poderia ser histórica não fosse o fato de ter tido um público muito pequeno, talvez por conta de que muitos de seus fãs ou estarem idosos de mais para irem ao show ou por não estarem mais vivos. Então essa é a corrida, se apressar, inventar produtos para arrecadar o que resta do bolso dos velhinhos roqueiros ainda vivos.
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