“O heavy metal é uma degenrescência (sic) do rock”. Lobão
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“O heavy metal é uma degenrescência (sic) do rock” disse Lobão polemizando novamente de maneira espetacular num podcast. Mas e daí, Lobão está só polemizando, está falando bobagem, ignora do que trata ou diz a verdade?
O heavy metal perdeu a essência negra.
Ainda na entrevista Lobão arguiu que o Heavy Metal perdeu a essência negra do rock, que se tornou algo escandinavo. De certa forma é verdade. Não há nada de blues, de swing, de funk no power metal, black metal por exemplo. Mas nesse metal dos anos 90 porque até os anos 1980 o metal sempre teve boa dose de rock e blues. Álbuns do Black Sabbath, Ozzy Osbourne, Saxon, Rainbow entre outros sempre mantiveram o rif cadenciado, as linhas simples e cíclicas de contrabaixo, a levada raiz do blues.
Raízes negras.
É tácito que nos anos 1970 mesmo o hard rock e até o nascente heavy metal eram muito baseado no blues. Lobão nesse sentido é coerente. O som do Mountain por exemplo é puro swing, levadas vigorosas de contrabaixo bem cadenciado, uma coisa pulsante, pesada e ao mesmo tempo com uma dinâmica que dava uma certa leveza ao som. A música tinha quela “pegada” stoner.
Até os rudimentos da new wave of british heavy metal com Judas Priest em 1876 no álbum Sad Wings of Destiny pode-se notar essa raiz presente. Até o início dos anos 1980 o que se chamava de heavy metal era repleto de raízes blues e do rock original. É justamente com a nova onda do heavy metal britânico que ocorre essa mudança citada por Lobão, o metal se torna europeu, clássico, erudito, ou nas suas palavras, escandinavo.
Nada a ver com as raízes?
De fato, o hovo heavy metal que passa a existir em final dos anos 1970 e início dos 1980 vai abandonando aos poucos o blues e se distanciando da raiz negra do rock. Talvez Lobão estivesse realmente certo, o metal se torna europeu. Dragões, temas medievais, deuses míticos e guerras mundiais, o heavy metal se reinventa. A sonoridade vai se transformando, seguindo um conceito criado por Antonín Dvořák o metal começa a fazer a música de ferrovia. Exatamente, música acelerada, mecânica, a essência do trash. O curioso é que até isso vem do blues. No trabalho de contrução das ferrovias nos Estados Unidos os escravos criaram um ritmo de marteladas dos rebites dos trilho. Muitas bandas de blues ensaiavam nos vagões de trem indo para as apresentações e o ritmo das emendas do trilhos se chocando com as rodas. Dvořák cria peças eruditas que seguiam esse ritmo. Mas a música de ferrovia do heavy metal não era necessariamente essa do blues, tampouco a do compositor erudito. É o ritmo acelerado, mecânico, que aparece no início dos anos 80 em músicas como “The prisioner” do Iron Maiden…
e encontra seu corolário no trash metal, como em “Motorbreath” do Metallica.
Mas e daí Lobão?
Daí que o problema da fala do Lobão não é seu teor ou sua constatação em si. O problema foi o seu juízo de valor. Como se o rock de raízes negras fosse melhor, merecesse mais consideração, mais respeito. Isso não parece muito correto. Fico com o pensamento de Schopenhauer: a apreciação da arte reflete o interior do ser. Ou seja, cada um gosta do que quiser. Aquilo do que se admira diz muito sobre o indivíduo que contempla. Nesse sentido, a arte, a música em si não é nada. Quem atribui sentido e significado a música é aquele que a escuta. Temos que ter muito cuidado com o julgamento das obras de arte. É possível que a fala de Lobão leve a interpretação de que o heavy metal de formas européias, “escandinavo”, negue o rock de raízes negras dos Estados Unidos. E há o perigo disso se desdobrar para outros entendimentos relacionando tais ideias a racismo, preconceito e coisas até piores.
Lobão não errou na sua percepção mas quase comete um crime no juízo que tece em sua observação
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