A nova onda é a dos “coachs mirins”. Já não era ridículo o suficiente saber que pessoas adultas gastam seu suado dinheiro com cursos, palestras etc para ouvir espertalhões que ensinam como ser feliz, inteligente e ficar rico, agora as pessoas estão dando atenção para meninos adolescentes.
AH, A GERAÇÃO “Z”.
Não é nada contra jovens, preconceito com geração “Z”, conflito de gerações, nada disso. Há jovens bem perspicazes, é verdade, como a Greta Thunberg. Mas parte-se do princípio que adolescentes devem estar estudando, curtindo a vida e não dando uma de sábio. O problema é que não estão dando uma de sábios, estão fazendo comédia involuntária.
PROSPERIDADE E NADA MAIS.
A essência da fala dessas crianças se alicerça na teologia da prosperidade. O negócio é ficar rico. Isso, esse é o objetivo central da vida. E para ficar rico deve-se descartar tudo o que não esteja explicitamente e diretamente relacionado a isso. Como essas pessoas ainda estão em idade escolar boa parte de seu discurso é maldizendo a escola. Numa postura de bons delinquentes esses “vencedores” detratam e desmerecem de maneira contundente o saber. Para que saber história, fórmula de bhaskara etc? É uma visão pobre e pragmática da vida, uma redução da existência a ganhar dinheiro para ostentar. Esses seres se apossam de uma imagem de sucesso e sofisticação. Mas que modelo de vida é esse? Que existência é essa? Ter dinheiro, roupas, joias, comer, beber, dormir e observar o mundo com a cognição de cachorro. Alguém até pode achar esse modelo de vida legal, e na verdade a maioria vive assim. Mas é uma miséria. Uma criatura que vive assim não é muito diferente que um pet que teve a sorte de ser adotado por uma madame milionária.
VIOLÊNCIA
Uma frase que viralizou foi de um guri ironizando a importância de se saber sobre Aristóteles. Diz o menino que de nada serve conhecer Aristóteles, que se um ladrão entrasse em sua casa ele faria o que com esse conhecimento, gritaria Aristóteles? Esse é outro complemento da visão de mundo dessas criaturas, a violência. É uma marca do mundo capitalista, quem tem medo. O conhecimento não serve apenas se for útil para ganhar dinheiro, mas se for para se defender da violência que sua prosperidade atrai. Como são abjetos a estudar história, sociologia e filosofia não sabem que o meio mais eficaz de se proteger de assaltos e roubos é promover justiça social, erradicando-se a miséria e pobreza de tal sorte que não exista na sociedade indivíduos desprovidos que se motivem a invadir uma residência para subtrair um eletroeletrônico ou qualquer outra coisa barata para amenizar seu sofrimento. O pensamento desses “treinadores de vencedores” é que não basta ganhar dinheiro, é preciso você mesmo deter meios e técnicas para revidar a violência da sociedade pobre e miserável em que vivem. Se armar, matar, agredir, na cabeça desses ricos do futuro uma pessoa próspera deve também se ocupar de ser violenta.
Viral também é uma fala na qual uma criança diz que se for para ele ir a escola que seja para ensinar. Porque para ele nada de útil é ensinado nesta escola. Não há outra definição para isso como sendo uma vertente do neofascismo. Assim como os ditadores de extrema direita (de esquerda também) da primeira metade do século XX perseguiram artistas e intelectuais esse tipo de ser humano condena o saber, o belo, a erudição. O importante é enriquecer e praticar e violência para se defender da miséria que o cerca. O ápice desse raciocínio foi demonstrado num podcast em que uma menina critica a ideia de fazer faculdade. Acusam os professores que estimulam os jovens a fazer curso superior de serem esquerdistas, num tom que insinua que tais professores são obtusos, burros e incapazes de ver a verdade da vida por seguirem uma ideologia mentirosa. Sim, é bem verdade que ter um diploma não te assegura ficar rico. Na cabeça desses infantes ter uma profissão, existir pelo trabalho, pela construção de uma obra só se justifica se for para ficar rico. Logo, fazer uma licenciatura e viver com uma renda de cinco, sete ou dez salários mínimos é uma escolha burra, coisa de esquerdista equivocado. Não há a concepção da realização profissional, do aprofundamento no conhecimento, da construção real de uma obra. Para os jovens que querem entrar na universdade essa é uma triste boa notícia. Uma boa parte dos seus concorrentes estão caindo nessa, que não vale a pena estudar. É claro que muitos conseguem uma vida confortável através do trabalho que não depende do curso superior, mas descartar de vez a graduação? Só o dinheiro importa.
ENRIQUECER INVESTINDO.
E essa é a verdade mesmo? Isso é plausível. Não precisa citar muitos teóricos da economia para demonstrar que caso o indivíduo não seja herdeiro, ficar rico e viver de renda é uma ilusão trágica. Veja esse exemplo do portal “Bora investir”.
E é isso, você que não é herdeiro, que é assalariado, segundo esse projeto maravilhoso, deve ficar décadas, 20 ou 30 anos guardando uma parte substancial de sua renda, se privando de consumir, ou até de comer, para ter um milhão e viver com esplêndidos dez mil reais por mês de rendimento. Essa é a prosperidade, essa é a riqueza. Imagina a existência, trabalho, trabalho e trabalho, o que é muito bom, sem perder seu tempo com coisas ditas inúteis, leitura, estudo, arte, saber, juntando da maneira mais sovina e avarenta o fruto do seu tempo de vida para num futuro ser classe média baixa e confiar que esse parco milhão de reais sirva para te sustentar para sempre.
VIDA POBRE.
Não só os “coaches mirins” mas os outros “coaches” vivem disso. Cobram para entreter gente triste e vazia com um discurso que pode te levar a uma vida triste, vazia e pobre…
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